ENCONTRO DE PREPARAÇÃO
PARA A
VIDA MATRIMONIAL
Preparação próxima: o amor
conjugal
Quanto maior o
sentimento de responsabilidade pela pessoa amada, mais existe amor verdadeiro.
Em nossa
trajetória pela Preparação para o Matrimônio temos falado da importância da
fidelidade à Igreja e estruturação adequada desta nobre missão. No último
artigo, abordamos a necessidade da segurança de conteúdo, vamos refletir hoje
sobre um dos temas necessários à preparação próxima: o amor conjugal. Pode
parecer desnecessário falar de amor para um casal que está participando de um
curso/ encontro de noivos. Mas é justamente a oportunidade de confrontar as
ideias sobre amor disseminadas em nosso meio com a caracterização do amor
conjugal base do Matrimônio. Os noivos devem ser levados a confrontar o
conceito e modelo de amor que se tem em nossos dias (Que seja eterno enquanto
dure!) com o que nos ensina a Bíblia, o magistério da Igreja e os exemplos
dos santos. Acredito que o primeiro ponto seja refletir com os noivos a grande
diferença entre amor e paixão. Parando um minuto para refletir: qual a
grande diferença entre estes termos?
Não tenho receio de afirmar que as
paixões são egoístas e promovem a busca para ficar próximo(a) do(a) outro(a),
beneficiando a si mesmo de sua presença, ou como dizem, "curtindo" o
momento. O amor, por sua vez, começa a nascer quando o sentimento de
responsabilidade e interesse pela vida do outro vai surgindo, assim como nasce
uma amizade verdadeira. Vai além de querer estar ao lado da pessoa porque ela é
agradável ou porque você sente-se bem ao lado dela. Concretiza-se quando todos
estes sentimentos somam-se ao desejo de ver o outro bem e lutar para que ele
(ou ela) seja feliz, mesmo que isso implique em muitas renúncias pessoais. Os
casais de nosso tempo sabem o sentido da palavra renúncia? Por ser palavra
pouco praticada em nosso tempo é que muitos matrimônios (que talvez nunca
tenham existido de fato!) entram em sérias crises após as primeiras
dificuldades.
O
sentimento deve crescer para o amor Amor-Ágape, como um reflexo do amor de
Jesus por nós, capaz de doar a própria vida. O amor matrimonial é bem descrito
por São Paulo quando exorta “Maridos amai as vossas mulheres, como Cristo
amou a Igreja e se entregou por ela.” (Ef 5,25). Ao falar do amor, não se
pode deixar de falar que, como cristãos católicos, acreditamos que o amor vem
de Deus. "O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino".
(CIC1639) Ele nos dá também o Espírito Santo para iluminar nossa razão e
assumirmos o compromisso de amar de modo concreto. Sim, um compromisso. Os
noivos não podem achar que é apenas sentimento, mas devem saber que o amor
também envolve o uso da razão. Além do sentimento, a razão é fundamental para
conhecer a própria capacidade e disposição para assumir um compromisso até que
a morte os separe! Um enorme desafio é falar, em nossa sociedade baseada em
situações efêmeras, da verdade sobre o amor como compromisso indissolúvel. É
comum encontrarmos pessoas que estão no seu segundo, terceiro, quarto
casamento... , um fato cada vez mais assimilado pela sociedade. Tanto que, ao
perceberem que já tenho seis filhos, algumas pessoas me perguntam: "Todos
do mesmo casamento?" Sim, do mesmo e único! A correnteza vai
empurrando forte em sentido contrário ao casamento pra vida toda. Quer um
pequeno exemplo? Alguma vez você já foi a uma festa de aniversário onde depois
do Parabéns, cantam o "com quem será"? E o final mais conhecido dessa
canção é: Ele aceitou, ele aceitou...Teve dois filhinhos e depois se
separou! Parece brincadeira ingênua, mas é o reflexo do pensamento
contemporâneo. Particularmente, tenho pavor desse "com quem será" e
procuro mudar a letra com meus filhos para algo como "tiveram muitos
filhos e a família aumentou!".
É por
tudo isso - doação, compromisso, amor-Ágape etc - que o PSM destaca que os
noivos "são convidados a compreender o que significa o amor responsável
e maduro da comunidade de vida e de amor que será a sua família, verdadeira
igreja doméstica, que contribuirá para enriquecer toda a Igreja."(PSM2)
E o que será esse amor responsável e maduro? O Papa João Paulo II nos dá uma
boa pista, em seu livro Amor e Responsabilidade: Quanto maior o sentimento
de responsabilidade pela pessoa amada, mais existe amor verdadeiro” Ao
questionar os conceitos de amor e fazê-los refletir sobre que tipo de
sentimento os une, devem ser convidados a construir um amor maduro, alicerçado
na doação, pelo qual o casal certamente experimentará a grande felicidade da
vida matrimonial. E não estarão sozinhos, mas contam com a graça de Deus.
"Esta graça própria do sacramento do Matrimônio se destina a
aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel. Por
esta graça "eles se ajudam mutuamente a santificar-se na vida conjugal,
como também na aceitação e educação dos filhos. Cristo é a fonte desta graça.
"(CIC1641/1642) Somente assim, o casal poderá entender que "o
matrimonio implica para os esposos cristãos a resposta a uma vocação de Deus e
a aceitação da missão de serem sinal do amor de Deus para todos os membros da
família humana, sendo participação da aliança definitiva de Cristo com a Igreja."
(PSM16) Assim como é grande o desafio de falar de vários aspectos do amor aos
noivos dentro do tempo da preparação remota, é também grande o desafio de
citar, em um artigo, os pontos a serem abordados no tema do amor conjugal. Mas,
fica a sugestão de se trabalhar o amor sob o ponto de vista da doação e
compromisso, diferenciando-o da do amor curtição tão exaltado nas novelas,
filmes e até em casas de muitos cristãos! E que, pelo menos, se lembre do tema
quando alguém entoar "Com quem será?"
Preparação
próxima ao matrimônio: o diálogo que gera o conhecimento.
"Verificar a maturidade dos valores humanos
próprios da relação de amizade e de diálogo que caracterizam o noivado
(PSM32)"
Pode
parecer reducionista demais, mas me atrevo a dizer que se fosse necessário
escolher um único tema para ser tratado com um casal que se preparara para
contrair o matrimônio, eu escolheria o diálogo. Mas será que os namorados,
noivos e até os casados já não dialogam naturalmente? Dialogam sim e sobre
vários temas como onde pretendem morar, se vão alugar ou construir uma morada,
sobre o que fazer no final de semana etc. Alguns casais estão sempre, mas
sempre mesmo, conversando. Há aqueles que após passarem o dia inteiro juntos,
quando chegam em suas casas, ainda falam por dezenas de minutos pelo telefone.
Outros não desgrudam os dedos do celular, com infinitas mensagens onde citam
cada passo que vão dar. Mas meu questionamento é se esse diálogo, ainda que
intenso, se aprofunda a ponto de promover conhecimento interior. Uma reflexão
para os noivos que estão nos cursos/encontros de preparação próxima, mas também
para todos os casados, noivos ou namorados: Nos últimos 30 dias, quantas
vezes vocês falaram, um para o outro, de seus sentimentos mais interiores? Das
inseguranças, temperamentos e até mesmo de dúvidas sobre o próprio
relacionamento?
Abrir
diálogo nesse caminho significa ajudar na construção do outro e permitir o
próprio crescimento. Um casal que caminha para o casamento não pode viver de
máscaras, onde um ainda tenta impressionar o outro como se fosse um flerte
adolescente, mas deve mostrar sua real humanidade, cheia de falhas e medos. Pensar
em manter uma aparência para garantir um relacionamento, assim como pensar em
se casar com alguém próximo da perfeição é pura ilusão, ainda vivido por muitas
pessoas. Ninguém deve ter medo de perder o(a) noivo(a) ao descortinar sua
estrutura interior. Se houver amor. Comentamos que amor também implica
compromisso e uso da razão, ver artigo às p. 8-9 acima), o conhecimento
interior será propulsor para a jornada de compreensão e trabalho para o
crescimento e santificação do outro, que é ensaiada durante o noivado, mas se
estabelece na celebração do Matrimônio. Os noivos precisam ser, literalmente,
chacoalhados para abrirem os olhos e perceberem que a única situação que se
fará presente até que a morte os separe é o diálogo ou a comunicação entre eles
(que existe mesmo sem palavras). Praticamente tudo o que "curtem"
enquanto noivos e no início do casamento pode não durar muito tempo. As festas
que frequentam, as viagens, o dinheiro, o status, o vigor físico e tantas
outras coisas não possuem nenhuma garantia de continuidade. Contudo, no altar
vão assumir o Matrimônio "até que a morte os separem". Será isso que
estamos assistindo ao nosso redor? Quantos casais se separam ao enfrentarem
problemas financeiros! E ao encontrarem dificuldades e restrições ligadas à
vida sexual!
Alguns
casais, com muitos anos de casamento vividos na correria do "fazer isso e
resolver aquilo" se estranham quando os filhos crescem e saem de casa para
estudarem ou casarem. No momento em que não mais têm tanto a fazer, olham um
para o outro e já não se conhecem. Não construíram o diálogo, desenvolveram
suas estruturas interiores de modo individualista e 11
encontram muitas dificuldades de se abrir e se transformar.
Escondem-se atrás de justificativas como "ele casou comigo, sabe que sou
assim e agora não vou mudar!" O resultado disso? Olhe para o crescente
número de separações de casais maduros. Até o famoso filósofo alemão Nietzche
(1900-1944), existencialista, recomendava que ao pensar sobre a possibilidade
do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você seria capaz de
conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice? E para dialogar com
“prazer”, sentir-se à vontade e feliz ao lado do cônjuge, o relacionamento deve
ser baseado no diálogo sincero, assim como as melhores amizades. Amizade? Mas
não estamos falando de casamento? Sim, amizade! Uma dimensão muito importante
do matrimônio, que é criada pelo diálogo profundo, é a amizade entre os
cônjuges. Isso não significa esquecer as outras amizades, mas valorizar de modo
especial essa amizade que deve superar todas as outras. Note que o documento
Preparação para o Sacramento do Matrimônio expressa que "Parece
oportuno que, durante a preparação próxima, seja dada a possibilidade de
verificar a maturidade dos valores humanos próprios da relação de amizade e de
diálogo que caracterizam o noivado." (PSM32) Estratégias diversas
podem ser empenhadas, mas os grupos de preparação de noivos não podem deixar de
provocar reflexão sobre o diálogo que alimenta a amizade, aquele que é a base
do amor e leva os cônjuges a doarem a vida, um pelo outro, “como Cristo amou
a Igreja e se entregou por ela.” (Ef 5,25) Os noivos precisam ter convicção
de que, além de promover a amizade e alimentar o amor, o diálogo resolve
conflitos e também evita que eles surjam. Mas precisam exercitar, com disposição
para escutar e coragem para conversar como quem está interessado em buscar soluções,
não em acusar.
Contudo
não podem, em momento algum, pensarem que são capazes de realizar toda esta
empreitada por conta própria. Dialogar e construir uma relação de harmonia
exige esforço, mas seria em vão sem a misericórdia divina. Papa Francisco, na
homilia da missa de encerramento da Jornada da Famílias (27/10/13) nos ensina
que "só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o
amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos,
se apaga a alegria". Paz e bem!
São Paulo, 31 de Outubro de 2013 (Zenit.org) André
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