Por que
defender a vida antes do nascimento?
Às vezes, a chegada de uma nova vida
aparece como um problema seja por parecer pouco oportuna para a família ou para
a mãe, porque a criança não nascerá saudável, por ser fruto de um estupro. Por
que defender o nascimento de um filho acima de tudo Cada vida humana
começa a existir por uma ação dos pais, que geram o corpo, mas também de Deus,
que infunde a alma. Com a mesma identidade biológica – do momento da fecundação
até a morte –, possui um valor inviolável e um potencial que superam as
expectativas e as circunstâncias em que foi gerada.
A vida humana é um presente que Deus
confia à pessoa. Desde o seu início, na fecundação, possui, muito além das
circunstâncias em que se origina, uma grande dignidade e uma promessa de
eternidade.
A vida humana é sagrada porque vem de
Deus, permanece sempre em uma especial relação com Ele e se dirige a Ele. O pai
e a mãe transmitem a vida, mas o Criador é o único Senhor desse dom.
Como confirma a genética
atual, no momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, começa a
aventura da vida de um novo indivíduo humano, que já tem sua própria identidade
biológica e irá desenvolvendo suas potencialidades progressivamente, sem saltos
qualitativos.
A nova vida possui uma
dignidade intrínseca à sua natureza e um inestimável valor, independentemente
de qualquer consideração subjetiva (por exemplo, o desejo de não ter um filho
ou a crença de que a pessoa não será feliz), e exige ser acolhida com
responsabilidade.
A liberdade humana, inclusive
nas circunstâncias mais difíceis, é capaz, com a ajuda de Deus, de gestos
extraordinários de sacrifício e de solidariedade para acolher a vida de um novo
ser humano.
Uma gravidez não planejada – e
talvez não desejada – pode exigir sacrifício, formação, informação e ajuda. Mas
as pessoas podem, apesar das dificuldades e das suas fraquezas, corresponder à
altíssima vocação para a qual foram criadas: a de amar.
De fato, a experiência
demonstra que muitas gravidezes não desejadas se transformam em alegres
maternidades. Por outro lado, numerosas crianças dadas em adoção podem também
desfrutar de uma vida plena e oferecer sua contribuição ao mundo.
Ainda sendo pequeno e estando
oculto no ventre da sua mãe, o concebido é amado infinitamente por Deus, por
ser uma pessoa humana, feita à sua imagem e semelhança, e está chamado à
felicidade eterna.
Para a mulher, ser mãe é uma
oportunidade única de realizar-se, porque esta experiência lhe permite
desenvolver um aspecto essencial de si mesma.
Ter um filho responde a um
convite inscrito no próprio ser feminino: na aspiração da sua alma a refletir,
junto ao homem, o poder criador e a paternidade de Deus, em sua estrutura
psíquica inclinada a acolher a vida, e em sua própria constituição física e em
seu organismo, organizados naturalmente para a concepção, gestação e parto do
filho, como fruto da união com o homem.
Assim, a estrutura feminina,
unida à dimensão do dom próprio de toda pessoa, oferece pistas claras sobre o
desígnio divino para a mulher, cuja realização lhe permite encontrar sua
plenitude.
A feminista Janne Haaland
Matláry, especialista em ciências políticas, descreve assim a experiência da
maternidade, que enche de alegria e de sentido a vida de milhões de mulheres:
“Sempre fui uma mulher trabalhadora, interessada, acima de tudo, no meu próprio
trabalho. Mas quando me tornei mãe, percebi que essa era, em um sentido muito
profundo, a verdadeira essência da feminilidade”.
Cristo fala sobre a profunda
satisfação, o significado e o alcance da maternidade, comparando a vida que a
mãe traz com a vida eterna que Ele oferece: “A mulher, quando vai dar à luz,
fica angustiada, porque chegou a sua hora. Mas depois que a criança nasceu, já
não se lembra mais das dores, na alegria de um ser humano ter vindo ao mundo.
Também vós agora sentis tristeza. Mas eu vos verei novamente, e o vosso coração
se alegrará, e ninguém poderá tirar a vossa alegria” (Jo 16, 21-22).
Ao longo da história, a
maternidade foi muito valorizada. No entanto, às vezes também foi (e continua
sendo) penalizada ou desvalorizada, por exemplo, pelo feminismo radical que se
desenvolveu nos anos 70 (este relacionava a maternidade à mulher passiva e
atrasada) e pelos sistemas econômicos que, na prática, discriminam as mulheres
trabalhadoras que têm filhos ou não as apoiam. Esta atitude impediu que muitas
mulheres realizassem livremente um aspecto essencial de si mesmas e empobreceu
a humanidade.
A maternidade também é
essencial para o futuro de uma sociedade humana sustentável.
As mulheres que dão vida e
ajudam para o seu crescimento oferecem uma contribuição transcendente para a
coletividade, algo que o Estado e a sociedade devem reconhecer e proteger.
Bento XVI destacou este
aspecto ao receber, em janeiro de 2011, um grupo de responsáveis de
instituições públicas italianas, salientando que “é necessário apoiar
concretamente a maternidade, como também garantir às mulheres que desempenham
uma profissão, a possibilidade de conciliar família e trabalho. Com efeito,
demasiadas vezes elas são postas na necessidade de escolher um dos dois. O
desenvolvimento de políticas de ajuda adequadas, como também de estruturas
destinadas à infância (...), pode contribuir para fazer com que o filho não
seja visto como um problema, mas sim como um dom e uma grande alegria”.
Poucos meses antes, ao
consagrar a basílica da Sagrada Família de Barcelona, o Papa ressaltou também a
necessidade de que “a natalidade seja dignificada, valorizada e apoiada,
jurídica, social e legislativamente”.
Atualmente, na Europa, o
índice de fecundidade não garante a renovação geracional. A diminuição e
envelhecimento da população escondem grandes problemas sociais e culturais,
relacionados à falta de esperança, e apresentam outros muitos, como o futuro
das pensões. As mães têm uma função vital na configuração de uma sociedade
humana com futuro esperançador.
A verdadeira igualdade de
sexos contempla o especial esforço integral de a mulher no gerar em comum, que
deixa o homem em dívida com ela, segundo palavras de João Paulo II.
A Igreja mostra a família como
o lugar mais adequado para acolher a vida humana e exige que o Estado a
respeite, proteja e apoie. Ao mesmo tempo, consciente da sua solidariedade
corresponsável, demonstra seu apoio incondicional às mães para acolher sua
maternidade com uma atitude positiva e levar adiante a gestação, nascimento e
educação dos seus filhos, e para que, sempre e em todos os lugares, os seres
humanos que vêm ao mundo recebam um acolhimento digno do homem, se necessário,
por meio da ajuda às famílias, às mães solteiras e aos filhos.
A vida humana é inviolável.
Recorrer ao aborto significa matar um ser humano inocente e indefeso,
prejudicando assim quem o realiza e toda a sociedade.
A vida humana deve ser
respeitada e protegida a partir do momento da concepção. Ainda que sejam muitos
os problemas que podem acompanhar a gravidez e o filho concebido, estes
justificariam expulsar o feto do útero – o que causa a morte desse ser humano
que se encontra na primeira fase da sua existência?
Além do homicídio concreto de
um ser humano inocente, totalmente confiado à proteção da mulher que o carrega
em seu ventre, o aborto provocado é uma força destruidora para a vida das
pessoas envolvidas nele, especialmente de mulheres que muitas vezes tiveram de
enfrentar sozinhas a dor e o arrependimento profundos que surgem depois da
decisão de acabar com a vida de uma criança não nascida.
O aborto destrói vínculos
naturais de pais e filhos e viola o parentesco espiritual de todos os homens,
acaba com a dignidade da pessoa humana, é uma profunda injustiça nas relações
humanas e sociais e ofende o Criador.
Sua proliferação prejudica
todos, porque diminui o respeito à vida dos idosos e doentes; “a distinção
entre o bem e o mal obscurece-se, e a sociedade tende a justificar até mesmo
procedimentos claramente imorais”, constatou o Papa polonês no 25º aniversário
da legalização do aborto nos Estados Unidos.
Desde o primeiro momento da
sua existência, o ser humano deve ver reconhecido os seus direitos como pessoa,
entre os quais se encontra o direito à vida, que, além de tudo, é um elemento
constitutivo da sociedade civil e da sua legislação. Os Estados estão obrigados
a defender este direito fundamental.
As propostas de legitimar um
suposto direito ao aborto se baseiam em discriminações arbitrárias e na lei do
mais forte, que levam a retroceder a uma época de barbáries, que a sociedade
acredita já haver superado para sempre. A paz requer o respeito pela dignidade
das pessoas.
De qualquer maneira, se uma
pessoa abortou ou participou dessa grave injustiça, sempre pode se arrepender,
acolher o perdão e a paz de Deus no sacramento da Reconciliação, confiando esse
ser humano falecido à misericórdia do Pai. Além disso, inclusive por meio dessa
morte, Deus pode tirar algum bem.
Referências
Agradecemos a Justo Aznar,
diretor do Observatório de Bioética da Universidade Católica de Valência, e ao
Pe. Sabatino Majorano, decano da Academia Pontifícia Afonsiana, pela revisão
deste artigo.
Fonte:http://www.aleteia.org/pt/saude/q&a/por-que-defender-a-vida-antes-do-nascimento-118034.
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